quinta-feira, 15 de maio de 2008

Poesia: COMPARAMENTO

Os rios recebem, no seu percurso, pedaços de pau,

folhas secas, penas de urubu

E demais trombolhos.

Seria como o percurso de uma palavra antes de

chegar ao poema.

As palavras, na viagem para o poema, recebem

nossas torpezas, nossas demências, nossas vaidades.

E demais escorralhas.

As palavras se sujam de nós na viagem.

Mas desembarcam no poema escorreitas: como que

filtradas.

E livres das tripas do nosso espírito.

(Manoel de Barros,"Ensaios Fotográficos", Record, RJ, 2003)

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