Tenho certeza que o trânsito de Cuiabá lhe incomoda ou já lhe incomodou. Hoje cedo, deslocando-me para o trabalho, antes das oito horas da manhã, pelas vias não planejadas da Capital, mais uma vez enfreitei pequeno congestionamento entre o Jardim Itália e a Miguel Sutil, pela antiga Avenida dos Trabalhadores, que agora chama-se (pelo menos oficialmente) Dante de Oliveira. Esse congestionamento ocorre porque a Avenida dos Trabalhadores é via de escape de enorme contingente de condutores que, por serem moradores do Grande Coxipó, habituaram-se a evitar a Avenida Fernando Corrêa. Do mesmo modo, procuram a Avenida dos Trabalhadores os condutores moradores do Grande CPA, bem como os dos bairros contíguos à sua faixa de rolamento (desde o Pedregal até o Três Barras).
Assim, apesar de não ser uma capital de grande porte, mas por sofrer pelo tímido planejamento urbano ao longo de sua existência, Cuiabá apresenta algumas zonas de “estrangulamento” de trânsito nos horários de pico, principalmente em suas vias principais, como a Fernando Corrêa, a Miguel Sutil, a Avenida dos Trabalhadores, a Avenida do CPA e todas as vias que lhe são secundárias.
O debate sobre o trânsito é um debate sobre o espaço público e também sobre o comportamento público dos cidadãos.
Isso porque as ruas são, juridicamente, bens de uso comum, ou seja, todos os cidadãos estão aptos a utilizá-las. Ou pelo menos deveria ser assim.
Por isso me assombro com algumas opiniões de motoristas acerca da questão do tráfego, como: deveriam retirar esses ônibus e caminhões das linhas mais movimentadas!
Ônibus e caminhões? E deixar os carros? Sim, o estabelecimento desse “Apartheid” muito mal disfarçado é a solução apresentada por alguns. Assim, à classe econômica mais privilegiada, a que tem condições de adquirir, financiar e manter carros é que seria garantido o acesso a esse espaço público, bem que passaria a ser de apenas alguns poucos. Afinal, os ônibus só transportam pobres mesmo... Eles que se virem para chegar aos empregos, serviços, “bicos” (que sustentam a economia da cidade)...
Incrível como essas pessoas não produzem propostas pensando no coletivo, no todo. Seria muito mais razoável, econômico e correto do aspecto ambiental que o transporte público fosse privilegiado, tornando-se de boa qualidade. Não só ônibus, mas, talvez, metrôs de superfície, se os subterrâneos são tão caros...
Não fugirei da discussão: muito do trânsito complicado de Cuiabá tem a ver com falta de educação no trânsito mesmo. Ninguém cede passagem. Se você estiver numa via secundária, esperará por vários minutos por alguém cordial o bastante para ceder passagem, quando esta deveria ser a regra. As pessoas não admitem perder uns poucos segundos com uma gentileza porque encaram aquele convivência no espaço público exatamente como mais um ato, coerente com sua atuação no espaço “privado”.
E o espaço “privado” é o espaço da competição, do “eu sou mais eu”, do individualismo a serviço da ascensão profissional, etc. O mundo é dos “espertos”. Se “bobear você leva”...Essa é a tônica. Esse tem sido o comportamento, muito pouco ético por sinal na empresa, nos órgãos públicos, na família.
Veja a seguinte cena: a “madame” ou o “madamo” leva o Júnior à escola. Em frente à portaria desta para o seu carrão(geralmente caminhonetes enormes que comprometem a passagem pela via) – tem que ser exatamente em frente à portaria da instituição. E enquanto todo os outros condutores (a Sociedade) os esperam(porque não tem outro jeito mesmo), o Júnior desce do carro. A “madame” ou o “madamo” então aperta aquele dispositivo interno do carro, muito moderno e o porta-malas se abre. O Júnior vai até a traseira do carro pegar o material escolar. E, com direito antes a um beijinho na “madame” ou no “madamo”, finalmente adentra a sua escola. A mensagem é simples: “filho, primeiro nossos interesses. Temos poder e dinheiro o bastante para ocupar o espaço público como bem entendermos”. E, geralmente essas pessoas tem, mesmo poder político ou econômico, a julgar pela postura prepotente e pouco democrática, muito típica de quem está acostumado a “mandar”.
Como construir uma nova ética, mais democrática, em uma Sociedade que parece não querer abrir mão da postura agressiva de competição social, nem mesmo no espaço público? O que dizer do ato recorrente de “furar filas” de cinema, no banco, etc?
Mas a criação de uma nova cultura deve ser estimulada nem que seja mediante a repressão mais eficaz. Sobre repressão gostaria de escrever numa outra ocasião.
Para não terminar este post com um sentimento muito negativo, anoto uma constatação interessante: alguns mecanismos de auto-gestão do trânsito, como a liberação de passagem com preferenciais em rotatórias tem tido sucesso. Por que isso ocorre e na mesma cidade do “madamo” e da “madame”? Isso precisa ser investigado. E mais. Em Tangará da Serra/MT é comum que nas vias os veículos cedam passagem preferencial aos pedestres. Como conseguiram essa façanha? Quem participou dessa vitória? Eu imagino que seja uma iniciativa de várias instituições: escola, CTG´s, Universidades, Clubes de Diretores Lojistas, Detran, Prefeitura.
Essas vitórias é que deixam alguma esperança de que nosso trânsito pode melhorar.
2 comentários:
Zé, ao ler suas histórias na minha mente se forma imediatamente a imagem de vc as contando (o seu estilo de escrever reflemente fielmente seu jeito de falar!!), tanto q aquela impagável história do macaco, lembro perfeitamente o dia em q vc contou na assessoria!! Parabéns pelo blog!!Conteúdo para todos os gostos!!E concordo plenamente com vc em relação ao trânsito, algum tempo atrás meu irmão e minha mãe estavam no shopping esperando uma vaga por mais de 15 minutos até a pessoa entrar no carro, manobrar e sair. Qdo iam entrar na vaga, veio uma mulher (madame) correndo com sua pajero e entrou na vaga no lugar deles, o q gerou uma baita discussão com intromissão até do guardinha do shopping, q no final acabou q a mulher tirou o carro e deixou a vaga p minha mãe. Mas é a velha história de querer ser "mais esperto" q os outros... Uma vergonha!! bjos!!
Grande JAOS!!
rs
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