segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Homenagem a meu parceiro Adalto Jaime de Castro.
Parei de escrever neste blog há algum tempo como podem perceber. Entretanto, não poderia deixar passar um fato tão triste quanto o falecimento de meu grande parceiro Adalto Jaime de Castro.
O TRT da 23ª Região foi minha primeira incursão vitoriosa no serviço público federal. Fui um dos sete primeiros Oficiais de Justiça Avaliadores da casa, após seu primeiro concurso.
Conheci Adalto quando os primeiros colocados foram convidados a uma reunião na sede das antigas juntas trabalhistas (na época Cuiabá contava apenas com a 1ª e a 2ª Junta de Conciliação e Julgamento), onde hoje é a sede do CREA/MT, convocada pelos colegas Oficiais de Justiça na ativa (Adalto e Antonio Hernani Calhao).
Se a primeira impressão é a que fica, devo dizer que fiquei muito contente com a recepção. Foram esclarecedores, acolhedores, técnicos e sobretudo solidários. Ao fim da reunião Adalto e Calhao perguntaram aos presentes se alguém teria alguma dificuldade para exercer a função. Todos os outros foram unânimes em dizer que não. Fui o último a me manifestar, pois estava apavorado. Não tinha a mínima idéia de como exercer a função. Só tinha a teoria na cabeça. Resolvi externar isso.
A reunião terminou e estava indo para o ponto de ônibus quando Adalto me chamou. Me disse que ficasse calmo que em breve faríamos a divisão de atuação por área e que já tinha conversado com o Calhao e ele iria me auxiliar, se eu topasse ficar na mesma região (Várzea Grande) que ele.
Eu não tinha ainda noção do nível de ajuda que Adalto iria me dar, mas fiquei muito feliz pois se ele me desse apenas dicas sobre os mandados já me seria de grande valia.
Feita a divisão das áreas eu e Adalto nos responsabilizamos por Várzea Grande.
Fui novamente surpreendido quando no primeiro dia de trabalho ele me disse que tinha conversado com o colega José Romualdo, que por sua vez teria contado a ele que eu não tinha carro e iria cumprir os meus mandados de ônibus. Ele me disse: rapaz! Isso não vai dar certo não! Tem lugar em Várzea Grande que a linha do ônibus passa somente na principal! E ainda me gozou: logo, logo você vai ser ex-gordinho!
E para meu espanto, Adalto passou a me buscar na Benedito Leite, no Porto, onde morava na época para que então fôssemos cumprir os mandados em Várzea Grande.
Logo ficamos muito amigos e o trabalho conjunto nos transformou em parceiros. Ele mesmo começou a me chamar de parceiro. Adalto como bom mineiro era muito discreto, mas muito divertido. Eu era afobado e com estopim curto e o parceiro com uma paciência incrível me dava verdadeiras aulas, orientações, conselhos de como me portar. O trabalho de Adalto era simples e eficiente. Em resumo, o parceiro fez de tudo para me treinar a ser um bom Oficial de Justiça Avaliador. Em verdade, todos se ajudavam. Formávamos duplas, cientes das características de cada um. Eu era lembrado para mandados mais de embate pois segundo o parceiro “era bravo feito uma caninana”. Otávio era o “jeitoso”, Romualdo, o “técnico”, Euri a meticulosa e assim por diante.
No começo, e eu Adalto cumpríamos os mandados em seu fusca, que ele batizou de “Grijalbo”, porque tinha sido um juiz rápido, eficiente e muito bacana com os Oficiais de Justiça pois já tinha sido um. Além do “Grijalbo” cumpríamos mandados no carrão do parceiro, um Monza muito chique que utilizávamos para os mandados do interior.
A coisa mais irritante do mundo era fazer com que Adalto aceitasse minha colaboração para abastecer o “Grijalbo”. Sempre tinha uma expressão do tipo: Não, eu já abasteci! Ou: guarde o dinheiro para casar com a Cleidinha! Ou: eu vou pra aquele lado mesmo!
Certa vez, voltando do cumprimento de um mandado do interior, se não me engano em Barra do Bugres, quase fomos desta para melhor. Estávamos numa subida e avistamos lá no alto um caminhão ultrapassando outro indevidamente. O que ultrapassava não tinha como voltar, não deu mais tempo. Ele deslocou-se então para o acostamento do nosso lado e no momento crucial passaram todos os três veículos dividindo as duas pistas. O caminhão regular na sua pista preferencial, o Monza no meio e o outro caminhão à nossa direita. Quando foi possível, paramos no acostamento. Coração na boca. Pernas bambeando. Ninguém dizia uma palavra. Olhei para o parceiro e ele disse: Totó, você sujou o banco do meu Monza? E caiu na risada. E eu disse: parceiro, não sujei mas foi quase!
Outra história engraçada com carro foi quando eu comprei o meu primeiro: um Uno Mille Eletronic, cinza metálico, zero quilômetro!
Passamos a usar o Uno também, fiz questão e não deixava ele contribuir com a gasolina também, claro. Mas certa vez fomos cumprir um mandado em Santo Antonio do Leverger, numa chácara na beira do Rio Cuiabá. Era preciso passar por uma estrada colada no barranco do Rio. Adalto pegou o volante e enquanto dirigia ia me gozando: parceiro, tá perigoso aqui, acho que vamos cair com esse Uno novinho no rio!
Sempre que me encontrava com o parceiro ele se lembrava dessa história.
Reservado, o parceiro se iluminava quando falava dos meninos. Ana Luiza e Marcelo eram sempre lembrados com orgulho de pai babão mesmo.
Depois de um tempo a mesma generosidade que teve comigo o parceiro usou para ajudar um outro colega, o goiano Antonio Carelli. Me chamou num canto e disse que o colega estava chegando na cidade e brincou: vou ajudar o segundo gordinho perdido!
Adalto ajudou Carelli do mesmo jeito que me ajudou.
Estava dizendo aos amigos que há muito tempo não via o meu amigo. Mas meu pai faleceu em junho e ele e Eledice compareceram à missa de sétimo dia. A igreja estava cheia, ficamos para fora conversando. Colocamos a conversa em dia. Me disse que estava cumprindo mandados no interior. E que a saúde não estava muito boa. Cobrei ele largar o cigarro cujo vício tinha sido complicador para a recuperação do meu pai. Ele apenas sorriu e disse: é meu médico também fala isso! E me disse que estava feliz porque Marcelo estava morando com ele. Contei das minhas coisas e combinamos tentar marcar com os amigos, depois que as coisas acalmassem, para uma confraternização.
Aprendi com Adalto que você nada perde em ser humilde e assumir suas dificuldades. Que ajudar o próximo é um dever. Que transferir conhecimento é uma dádiva que só lhe agrega mais conhecimento. Os melhores são os mais simples.
Tenho muito orgulho desse amigo, que me ensinou que parceria é pros bons e maus momentos.
Este é um momento muito ruim. Mas como um de seus parceiros, dos tantos que ele ajudou, não posso deixar de cumprir a minha parte que é lembrar aos amigos, aos meninos, que Adalto foi um cara generoso, íntegro, excelente profissional e amigo.
Até um dia amigo.
terça-feira, 19 de julho de 2011
Silêncio na Getúlio
Silêncio na Getúlio.
(José Arlindo, lembranças da infância)
A subida da Getúlio Vargas
me cala.
Compartilho o silêncio prolongado
do Relógio da Matriz.
Miro, primeiro fôlego, a descida da treze
Antes subida,
bem longa .
Lá onde o Porto me aguarda a partir da República´s square.
Na Alencastro, mais silêncio.
Vivencio noites de luzes apagadas de
Procissão de Senhor Morto.
A cantilena repetida e mãos firmes de pais zelosos
afastando o medo das crianças iniciadas num soturno ritual.
Depois, a Alencastro.
Algodão doce
e fonte luminosa
a incidir em cabelos brancos de avós
num rosa e num azul de sonhos gentis.
(José Arlindo, lembranças da infância)
A subida da Getúlio Vargas
me cala.
Compartilho o silêncio prolongado
do Relógio da Matriz.
Miro, primeiro fôlego, a descida da treze
Antes subida,
bem longa .
Lá onde o Porto me aguarda a partir da República´s square.
Na Alencastro, mais silêncio.
Vivencio noites de luzes apagadas de
Procissão de Senhor Morto.
A cantilena repetida e mãos firmes de pais zelosos
afastando o medo das crianças iniciadas num soturno ritual.
Depois, a Alencastro.
Algodão doce
e fonte luminosa
a incidir em cabelos brancos de avós
num rosa e num azul de sonhos gentis.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
A Espada na Pedra I: somos todos Mato Grosso!
Prezados amigos, realmente me distanciei das postagens...Mas, como "animal político" não pude deixar de acompanhar e agora comentar algumas coisas que passaram pela minha cabeça nessas últimas eleições municipais de Cuiabá. De uma certa forma após essas eleições fiquei com a impressão que as próximas, de 2010, podem ser simbolizadas como a espada encravada na pedra, na lenda de Excalibur. Aquele que se encaixar no perfil correto irá retirá-la. Entretanto, antes de entrar nessa discussão algumas palavras sobre o pleito deste ano, no que toca a eleição dos vereadores.
Quanto à eleição proporcional não vou nem tecer muitos comentários. Apenas realçar alguns pontos que me impressionaram. O primeiro deles diz respeito à constatação de que esquemas familiares ainda são eficientes para a eleição de vereadores em Cuiabá. Temos alguns representantes eleitos que confirmam essa tese, o que demonstra que estamos ainda num estágio bem provinciano de se fazer política. Embora seja relevante também constatar que o eleitor também identifica, para não votar, os tais esquemas familiares. Dois jovens candidatos teoricamente "herdeiros" do legado político de seus "ancestrais", não foram eleitos, muito provavelmente por conta da assimilação negativa que tais "ancestrais" simbolizavam, um deles, inclusive na memória bem fresca da população.
Outro ponto das eleições proporcionais que sempre me intrigou é: como é que os candidatos que não são ligados a famílias influentes, ou que não sofrem super-exposição em meios de comunicação, conseguem se eleger e se reeleger com tanta facilidade? Como conseguem arregimentar aqueles quatro mil votos pra cima que garantem a eleição numa situação de pulverização extrema de candidaturas a vereador? Fazem, mesmo um bom trabalho? compram voto descaradamente? muitas respostas...
Acredito que os tradicionais esquemas políticos que garantem a sobrevivência da chamada "companheirada a soldo"(ou correligionários, no jargão político), ainda garantem uma minoria de votos. Esses votos se agregam a uns outros tantos de serviços prestados à comunidade(vamos também dar um pouco de crédito ao trabalho político da moçada)...uma grande parte deles se deve ao desequilíbrio por força da maior exposição (durante quatro anos) dos candidatos à reeleição perante a população, se comparada à mínima exposição dos novos candidatos. Convenhamos, uma parcela relevante de eleitores chega às urnas sem definir seu voto para verador e é muito raro que apanhe o santinho sujo jogado no chão para votar...Procura, dentre os candidatos aquele em quem já votou (e depois não acompanhou o trabalho parlamentar). Fala-se também(não sou eu quem está falando), em compra de votos a cinquenta reais...nesse preço, vejamos...dois mil votos custariam cem mil reais...e garantida estaria a eleição.
Fico imaginando como se daria essa compra de votos e o esquema esquizofrênico costurado em anos, cadastrando, cercando os eleitores(ou o "curral"). Fico imaginando o clima tenso na formação dessa lista já que uma simples denúncia, ou "trairagem" política pode levar à cassação do mandato e a processos eleitorais. Afinal, tem perdão (alguém há até mesmo de remunerar) o "ladrão que rouba o ladrão".
Mas retomando às eleições majoritárias e que inspiraram o tema deste post, conferi as inúmeras avaliações sobre o que representaram estas eleições para as vindouras, de Governador, em 2010.
Tenho observado algumas leituras e algumas colocações publicadas tem me chamado a atenção para um ponto: há uma disseminação na mídia "regionalizando" a discussão política.
Explico. Notei, durante a campanha, que o prefeito WIlson Santos de forma pontual e bem demarcada tentou vincular-se à imagem de Dante de Oliveira. Nada mais natural, uma vez que Wilson realmente "derivou" de Dante. Fiquei imaginando que tal vinculação seria uma espécie de reforço à questão de serem os dois candidatos do segundo turno, alienígenas(Wilson é paulista e Mauro Mendes é goiano). Depois, percebi, pelo discurso impresso(e perigoso) que não se tratava apenas de atrair para Wilson uma cuiabanidade emprestada de Dante, mas sim de contrapor(em um segundo plano), o verdadeiro alvo de fora(Maggi), com aquele que foi seu último concorrente de peso(Dante).
Para isso foi preciso toda a tucanada fazer ressoar o nome de Dante. Até mesmo na comemoração da vitória, coube ao deputado estadual Avalone bradar Dante. E depois, Wilson, lançar a "viúva"...de Dante.
Canonizar e fazer "baixar" Dante foi a tônica que chamou a atenção nesse período.
Mas o fecho veio depois das eleições, com alguns escritos que pontuaram na mídia. Feita a ligação, Dante/Wilson/Viúva versus Blairo/Mendes/botina, começaram a aparecer os discursos que eu temia. E teve gente que já escreveu sobre a arrogância da turma da botina - de fora - a humilhar nós cuiabanos...
Esse é o discurso perigoso pois é bairrista, limitado, preconceituoso...
Uma primeira questão seria esse "nós cuiabanos". Que "nós cuiabanos" é esse? Esse "nós cuiabanos" não me diz respeito, embora eu seja nascido aqui, família humilde, do Porto...
Talvez esse "nós cuiabanos" tenha mais a ver com a minoria de famílias que formavam a elite da terra num bem disfarçado e hipócrita esquema de curral eleitoral, forjado numa estrutura social estigmatizante, embora sutil, muito bem representado na famosa frase: "você é gente de quem?"
A estrutura provinciada demarcou por décadas os espaços sociais de nosso Estado embora essa não tenha sido uma característica apenas nossa. Não há nada de original nessa forma disfarçada de formação de castas políticas, apenas o "toque regional", muito bem disfarçado numa cordialidade e simplicidade que nos é típica. Mas que discriminava.
Eu atesto. Se não fossem os espaços públicos. Se não fosse a escola pública(minha querida UFMT e meu amado curso de Direito), estava eu fadado a cumprir o meu destino de "gente de ninguém", com meu sobrenome Silva.
O espaço público livre(o concurso público sério) e sem "esquemas familiares" é a redenção dos Silva. É a oportunidade democrática que estamos longe de ver concretizada, embora algumas instituições já dêem mostras de que esse caminho acabará sendo alcançado. Quem esperava a súmula do nepotismo do STF?
Então posso falar de cátedra: esse "nós cuiabanos" na verdade me diz muito pouco...E sei que diz também muito pouco a outros Silvas, como ao amigo Julier Sebastião da Silva, ao amigo João Bosco Soares da Silva e a tantos outros que estudaram e muito e disputaram pela competência o espaço público disponível para chegar onde chegaram.
Além do mais, graças ao bom Deus e quiça ao Senhor Bom Jesus de Cuiabá, nossa terra é representativa de miscigenação. Casei-me com uma paulista, descendente de italianos. Meu cunhado é goiano. Meus colegas de serviço público, a maioria de outros Estados. Todos contribuindo para nossa terra.
Esse discurso definitivamente não me atrai.
Seria aderir a um preconceito e à uma discriminação política à minha própria família, toda ela miscigenada. Embora alguns mais "tradicionalistas"(que fiquem em seus recantos), nos considerem "impuros".
Não se trata de defender Blairo Maggi. Trata-se de não aceitar a colocação de um discurso que não atende mais à realidade sociológica de nosso povo.
E termino com a pergunta: o Governador do Estado que queremos, aquele que retirará a espada da pedra, se for cuiabano discriminará a região oeste do Estado onde predominam paulistas e mineiros? discriminará a região norte onde os sulistas são maioria? Discriminará a região sul onde uma intensa mistura de sulistas e paulistas é dominante? discriminará a região leste marcadamente sobre a influência goiana?
Depois eu posto mais algumas considerações: aguarde - A espada na Pedra II...
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Dica de aquisição: “RAPOSA”, UMA FÁBULA BEM REAL
A última pesquisa feita pelo IBOPE, intitulada “Retratos da Leitura”, trás uma importante revelação(na verdade uma constatação):“As faixas mais jovens lêem mais do que as mais velhas, a influência da escola é importante na formação do leitor, a importância da mãe, ela tem papel fundamental para formar leitores”. Essa afirmação é de Jorge Yunes(em reportagem do Jornal Nacional de 28/05/2008), presidente do Instituto Pró-Livro.
A pesquisa espelha uma realidade. Em casa, Cleide faz extensas pesquisas para escolher os livros dos meninos. E, os momentos de leitura coletiva, antes de dormir se tornam um prazer a mais porque os livros brasileiros escritos para criança são de muita qualidade.
“Raposa” não é um livro de escritor brasileiro, mas é um livro que indico sem qualquer receio. É ótimo. Foi escrito por Margaret Wild e trata-se de uma fábula de uma poesia ímpar envolvendo três personagens: Cão, Gralha e Raposa. Assim como “Alice no País das Maravilhas” e “O Pequeno Príncipe”, “Raposa” encerra infinitas interpretações semióticas... desde a relação simbiótica entre Cão e Gralha, em que a amizade por necessidade é demonstrada, perpassando pela inveja de Raposa e sua candente necessidade de seduzir e depois trair....Enfim, “Raposa” é uma fábuba profunda e perturbadora, exatamente por se encaixar em várias situações sociais. Cães, Gralhas e Raposas, personagens presentes no trabalho, na escola, na família...
Além do mais, as ilustrações a cargo de um artista chamado Ron Brooks complementa a beleza do trabalho. Lia “Raposa” para meu filho e de repente recebi um cutucão para continar a leitura. A história era tão bela, que me perdi em pensamentos.
O trabalho recebeu vários prêmios internacionais, tanto pelo primoroso texto, quanto pelo design. No Brasil a editora que publicou raposa é a Book Brinque. Adquira, você vai gostar.
Crônica Moderna e clichês
(Vênus e Marte, quadro de Sandro Botticelli, pintado em 1657)
Enfim, Tício casou-se com Mévio. Cerimônia simples, não estavam de branco, já que os dois já são avôs. Mas já se decidiram: adotarão uma criança.
Tício, aliás, resolveu submeter-se ao período de prova que antecederá sua transgenitalização. Não vê a hora de ser chamado Ticiana.
Seu filho mais velho, Lívio, aquele casado com a moça em coma(por conta de bala perdida), apesar desses graves problemas que enfrenta já avisou que não aceitará duas mães em seu registro de nascimento. Também pudera, não estão com cabeça para isso agora. Veja que convertidos a Testemunhas de Jeová tiveram até que acionar a Justiça para impedir a primeira transfusão de sangue...
O do meio, Caio, agrônomo, veio para Mato Grosso. Está sendo processado pelo MPF. Também...plantou algodão transgênico. Comenta que “todos estão contra o desenvolvimento” e que se a coisa continuar assim prefere se tornar “brasiguaio”. Ironia, ele que tem terras na fronteira, perto da reserva indígena...Já pensou se investigam melhor aqueles carreadores de madeira?
O caçula, Tito, finalmente se formou em jornalismo. Parecia que ia ser jubilado, envolvido com movimento estudantil... Mas já está engajado numa Ong e ajudou na movimentação em prol da liberação das pesquisas com células-tronco. Inconfundível com seus piercings e body modification é o único que aceita o casamento de seu pai com Mévio. Também, dizem na cidade que é "bi" ou "tri", chegando, no carnaval, a ser até travesti...
Tia Magda, coitada, recolheu-se à religião, inconformada com toda essa situação. Mas até que reza bonitinho. Outro dia mesmo eu a vi terminando: Deus, dê comida a quem tem fome. E a quem tem o que comer, que dê fome de Justiça!
Enfim, Tício casou-se com Mévio. Cerimônia simples, não estavam de branco, já que os dois já são avôs. Mas já se decidiram: adotarão uma criança.
Tício, aliás, resolveu submeter-se ao período de prova que antecederá sua transgenitalização. Não vê a hora de ser chamado Ticiana.
Seu filho mais velho, Lívio, aquele casado com a moça em coma(por conta de bala perdida), apesar desses graves problemas que enfrenta já avisou que não aceitará duas mães em seu registro de nascimento. Também pudera, não estão com cabeça para isso agora. Veja que convertidos a Testemunhas de Jeová tiveram até que acionar a Justiça para impedir a primeira transfusão de sangue...
O do meio, Caio, agrônomo, veio para Mato Grosso. Está sendo processado pelo MPF. Também...plantou algodão transgênico. Comenta que “todos estão contra o desenvolvimento” e que se a coisa continuar assim prefere se tornar “brasiguaio”. Ironia, ele que tem terras na fronteira, perto da reserva indígena...Já pensou se investigam melhor aqueles carreadores de madeira?
O caçula, Tito, finalmente se formou em jornalismo. Parecia que ia ser jubilado, envolvido com movimento estudantil... Mas já está engajado numa Ong e ajudou na movimentação em prol da liberação das pesquisas com células-tronco. Inconfundível com seus piercings e body modification é o único que aceita o casamento de seu pai com Mévio. Também, dizem na cidade que é "bi" ou "tri", chegando, no carnaval, a ser até travesti...
Tia Magda, coitada, recolheu-se à religião, inconformada com toda essa situação. Mas até que reza bonitinho. Outro dia mesmo eu a vi terminando: Deus, dê comida a quem tem fome. E a quem tem o que comer, que dê fome de Justiça!
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Opinião - Trânsito: repressão e educação.
Tenho certeza que o trânsito de Cuiabá lhe incomoda ou já lhe incomodou. Hoje cedo, deslocando-me para o trabalho, antes das oito horas da manhã, pelas vias não planejadas da Capital, mais uma vez enfreitei pequeno congestionamento entre o Jardim Itália e a Miguel Sutil, pela antiga Avenida dos Trabalhadores, que agora chama-se (pelo menos oficialmente) Dante de Oliveira. Esse congestionamento ocorre porque a Avenida dos Trabalhadores é via de escape de enorme contingente de condutores que, por serem moradores do Grande Coxipó, habituaram-se a evitar a Avenida Fernando Corrêa. Do mesmo modo, procuram a Avenida dos Trabalhadores os condutores moradores do Grande CPA, bem como os dos bairros contíguos à sua faixa de rolamento (desde o Pedregal até o Três Barras).
Assim, apesar de não ser uma capital de grande porte, mas por sofrer pelo tímido planejamento urbano ao longo de sua existência, Cuiabá apresenta algumas zonas de “estrangulamento” de trânsito nos horários de pico, principalmente em suas vias principais, como a Fernando Corrêa, a Miguel Sutil, a Avenida dos Trabalhadores, a Avenida do CPA e todas as vias que lhe são secundárias.
O debate sobre o trânsito é um debate sobre o espaço público e também sobre o comportamento público dos cidadãos.
Isso porque as ruas são, juridicamente, bens de uso comum, ou seja, todos os cidadãos estão aptos a utilizá-las. Ou pelo menos deveria ser assim.
Por isso me assombro com algumas opiniões de motoristas acerca da questão do tráfego, como: deveriam retirar esses ônibus e caminhões das linhas mais movimentadas!
Ônibus e caminhões? E deixar os carros? Sim, o estabelecimento desse “Apartheid” muito mal disfarçado é a solução apresentada por alguns. Assim, à classe econômica mais privilegiada, a que tem condições de adquirir, financiar e manter carros é que seria garantido o acesso a esse espaço público, bem que passaria a ser de apenas alguns poucos. Afinal, os ônibus só transportam pobres mesmo... Eles que se virem para chegar aos empregos, serviços, “bicos” (que sustentam a economia da cidade)...
Incrível como essas pessoas não produzem propostas pensando no coletivo, no todo. Seria muito mais razoável, econômico e correto do aspecto ambiental que o transporte público fosse privilegiado, tornando-se de boa qualidade. Não só ônibus, mas, talvez, metrôs de superfície, se os subterrâneos são tão caros...
Não fugirei da discussão: muito do trânsito complicado de Cuiabá tem a ver com falta de educação no trânsito mesmo. Ninguém cede passagem. Se você estiver numa via secundária, esperará por vários minutos por alguém cordial o bastante para ceder passagem, quando esta deveria ser a regra. As pessoas não admitem perder uns poucos segundos com uma gentileza porque encaram aquele convivência no espaço público exatamente como mais um ato, coerente com sua atuação no espaço “privado”.
E o espaço “privado” é o espaço da competição, do “eu sou mais eu”, do individualismo a serviço da ascensão profissional, etc. O mundo é dos “espertos”. Se “bobear você leva”...Essa é a tônica. Esse tem sido o comportamento, muito pouco ético por sinal na empresa, nos órgãos públicos, na família.
Veja a seguinte cena: a “madame” ou o “madamo” leva o Júnior à escola. Em frente à portaria desta para o seu carrão(geralmente caminhonetes enormes que comprometem a passagem pela via) – tem que ser exatamente em frente à portaria da instituição. E enquanto todo os outros condutores (a Sociedade) os esperam(porque não tem outro jeito mesmo), o Júnior desce do carro. A “madame” ou o “madamo” então aperta aquele dispositivo interno do carro, muito moderno e o porta-malas se abre. O Júnior vai até a traseira do carro pegar o material escolar. E, com direito antes a um beijinho na “madame” ou no “madamo”, finalmente adentra a sua escola. A mensagem é simples: “filho, primeiro nossos interesses. Temos poder e dinheiro o bastante para ocupar o espaço público como bem entendermos”. E, geralmente essas pessoas tem, mesmo poder político ou econômico, a julgar pela postura prepotente e pouco democrática, muito típica de quem está acostumado a “mandar”.
Como construir uma nova ética, mais democrática, em uma Sociedade que parece não querer abrir mão da postura agressiva de competição social, nem mesmo no espaço público? O que dizer do ato recorrente de “furar filas” de cinema, no banco, etc?
Mas a criação de uma nova cultura deve ser estimulada nem que seja mediante a repressão mais eficaz. Sobre repressão gostaria de escrever numa outra ocasião.
Para não terminar este post com um sentimento muito negativo, anoto uma constatação interessante: alguns mecanismos de auto-gestão do trânsito, como a liberação de passagem com preferenciais em rotatórias tem tido sucesso. Por que isso ocorre e na mesma cidade do “madamo” e da “madame”? Isso precisa ser investigado. E mais. Em Tangará da Serra/MT é comum que nas vias os veículos cedam passagem preferencial aos pedestres. Como conseguiram essa façanha? Quem participou dessa vitória? Eu imagino que seja uma iniciativa de várias instituições: escola, CTG´s, Universidades, Clubes de Diretores Lojistas, Detran, Prefeitura.
Essas vitórias é que deixam alguma esperança de que nosso trânsito pode melhorar.
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Poesia: Uma palavra a Néstor Perez
Nós, servidores do MPF estamos condicionados a respirar poesia nas sextas-feiras. Pura obra de um abnegado chamado OSÓRIO SILVA BARBOSA SOBRINHO. Ele é responsável por um e-mail semanal intitulado:"POESIA:DELEITE-SE OU DELETE".
É uma iniciativa muito interessante, que "quebra" a dureza inerente ao enfrentamento dos mal-feitos que somos, por dever, obrigados a conviver. Mas já sofreu muitas críticas essa iniciativa. Mas ele resistiu e consolidou o espaço, felizmente.
Por isso dedico a essa iniciativa de Osório, o poema singelo que fiz, em homenagem a Néstor Perez. Sua história foi mencionada pela blogueira cubana, Yoná Sanchez( generación Y) Trata-se de um estudante de direito cubano que foi expulso, inclusive por seus colegas e reitor, por atividades que desagradaram o regime. Lá vai:
Uma palavra a Néstor Perez
Sei, Néstor,
porque o fizeste.
Enfim, perguntaste a
tua alma,
e o fizeste
como alguns poucos
mesmo contra as leis de teu Estado.
E que irônico mistério:
te preparaste
para utilizá-las.
Certamente um seleto dilema
como alguns poucos
enfrentaste:
prestidigitar “verdades”
em consonância com a lei,
ou operacionalizar Justiça
utilizando seu saber.
E tal qual Antígona
o fizeste
como muitos poucos,
mesmo contra as leis do teu Estado.
E como Antígona
sozinho ficaste,
perante teus pares
e teu Reitor.
Sei, Néstor,
porque o fizeste.
Um dia também perguntei
à minha´alma.
E escolhi, como tu
operacionalizar Justiças
mesmo na humilde
e insignificante
parcela que me cabe
na construção da liberdade.
Pois é a Justiça,
e não as leis
o verdadeiro valor.
Eu sei Néstor,
porque o fizeste.
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