segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Homenagem a meu parceiro Adalto Jaime de Castro.
Parei de escrever neste blog há algum tempo como podem perceber. Entretanto, não poderia deixar passar um fato tão triste quanto o falecimento de meu grande parceiro Adalto Jaime de Castro.
O TRT da 23ª Região foi minha primeira incursão vitoriosa no serviço público federal. Fui um dos sete primeiros Oficiais de Justiça Avaliadores da casa, após seu primeiro concurso.
Conheci Adalto quando os primeiros colocados foram convidados a uma reunião na sede das antigas juntas trabalhistas (na época Cuiabá contava apenas com a 1ª e a 2ª Junta de Conciliação e Julgamento), onde hoje é a sede do CREA/MT, convocada pelos colegas Oficiais de Justiça na ativa (Adalto e Antonio Hernani Calhao).
Se a primeira impressão é a que fica, devo dizer que fiquei muito contente com a recepção. Foram esclarecedores, acolhedores, técnicos e sobretudo solidários. Ao fim da reunião Adalto e Calhao perguntaram aos presentes se alguém teria alguma dificuldade para exercer a função. Todos os outros foram unânimes em dizer que não. Fui o último a me manifestar, pois estava apavorado. Não tinha a mínima idéia de como exercer a função. Só tinha a teoria na cabeça. Resolvi externar isso.
A reunião terminou e estava indo para o ponto de ônibus quando Adalto me chamou. Me disse que ficasse calmo que em breve faríamos a divisão de atuação por área e que já tinha conversado com o Calhao e ele iria me auxiliar, se eu topasse ficar na mesma região (Várzea Grande) que ele.
Eu não tinha ainda noção do nível de ajuda que Adalto iria me dar, mas fiquei muito feliz pois se ele me desse apenas dicas sobre os mandados já me seria de grande valia.
Feita a divisão das áreas eu e Adalto nos responsabilizamos por Várzea Grande.
Fui novamente surpreendido quando no primeiro dia de trabalho ele me disse que tinha conversado com o colega José Romualdo, que por sua vez teria contado a ele que eu não tinha carro e iria cumprir os meus mandados de ônibus. Ele me disse: rapaz! Isso não vai dar certo não! Tem lugar em Várzea Grande que a linha do ônibus passa somente na principal! E ainda me gozou: logo, logo você vai ser ex-gordinho!
E para meu espanto, Adalto passou a me buscar na Benedito Leite, no Porto, onde morava na época para que então fôssemos cumprir os mandados em Várzea Grande.
Logo ficamos muito amigos e o trabalho conjunto nos transformou em parceiros. Ele mesmo começou a me chamar de parceiro. Adalto como bom mineiro era muito discreto, mas muito divertido. Eu era afobado e com estopim curto e o parceiro com uma paciência incrível me dava verdadeiras aulas, orientações, conselhos de como me portar. O trabalho de Adalto era simples e eficiente. Em resumo, o parceiro fez de tudo para me treinar a ser um bom Oficial de Justiça Avaliador. Em verdade, todos se ajudavam. Formávamos duplas, cientes das características de cada um. Eu era lembrado para mandados mais de embate pois segundo o parceiro “era bravo feito uma caninana”. Otávio era o “jeitoso”, Romualdo, o “técnico”, Euri a meticulosa e assim por diante.
No começo, e eu Adalto cumpríamos os mandados em seu fusca, que ele batizou de “Grijalbo”, porque tinha sido um juiz rápido, eficiente e muito bacana com os Oficiais de Justiça pois já tinha sido um. Além do “Grijalbo” cumpríamos mandados no carrão do parceiro, um Monza muito chique que utilizávamos para os mandados do interior.
A coisa mais irritante do mundo era fazer com que Adalto aceitasse minha colaboração para abastecer o “Grijalbo”. Sempre tinha uma expressão do tipo: Não, eu já abasteci! Ou: guarde o dinheiro para casar com a Cleidinha! Ou: eu vou pra aquele lado mesmo!
Certa vez, voltando do cumprimento de um mandado do interior, se não me engano em Barra do Bugres, quase fomos desta para melhor. Estávamos numa subida e avistamos lá no alto um caminhão ultrapassando outro indevidamente. O que ultrapassava não tinha como voltar, não deu mais tempo. Ele deslocou-se então para o acostamento do nosso lado e no momento crucial passaram todos os três veículos dividindo as duas pistas. O caminhão regular na sua pista preferencial, o Monza no meio e o outro caminhão à nossa direita. Quando foi possível, paramos no acostamento. Coração na boca. Pernas bambeando. Ninguém dizia uma palavra. Olhei para o parceiro e ele disse: Totó, você sujou o banco do meu Monza? E caiu na risada. E eu disse: parceiro, não sujei mas foi quase!
Outra história engraçada com carro foi quando eu comprei o meu primeiro: um Uno Mille Eletronic, cinza metálico, zero quilômetro!
Passamos a usar o Uno também, fiz questão e não deixava ele contribuir com a gasolina também, claro. Mas certa vez fomos cumprir um mandado em Santo Antonio do Leverger, numa chácara na beira do Rio Cuiabá. Era preciso passar por uma estrada colada no barranco do Rio. Adalto pegou o volante e enquanto dirigia ia me gozando: parceiro, tá perigoso aqui, acho que vamos cair com esse Uno novinho no rio!
Sempre que me encontrava com o parceiro ele se lembrava dessa história.
Reservado, o parceiro se iluminava quando falava dos meninos. Ana Luiza e Marcelo eram sempre lembrados com orgulho de pai babão mesmo.
Depois de um tempo a mesma generosidade que teve comigo o parceiro usou para ajudar um outro colega, o goiano Antonio Carelli. Me chamou num canto e disse que o colega estava chegando na cidade e brincou: vou ajudar o segundo gordinho perdido!
Adalto ajudou Carelli do mesmo jeito que me ajudou.
Estava dizendo aos amigos que há muito tempo não via o meu amigo. Mas meu pai faleceu em junho e ele e Eledice compareceram à missa de sétimo dia. A igreja estava cheia, ficamos para fora conversando. Colocamos a conversa em dia. Me disse que estava cumprindo mandados no interior. E que a saúde não estava muito boa. Cobrei ele largar o cigarro cujo vício tinha sido complicador para a recuperação do meu pai. Ele apenas sorriu e disse: é meu médico também fala isso! E me disse que estava feliz porque Marcelo estava morando com ele. Contei das minhas coisas e combinamos tentar marcar com os amigos, depois que as coisas acalmassem, para uma confraternização.
Aprendi com Adalto que você nada perde em ser humilde e assumir suas dificuldades. Que ajudar o próximo é um dever. Que transferir conhecimento é uma dádiva que só lhe agrega mais conhecimento. Os melhores são os mais simples.
Tenho muito orgulho desse amigo, que me ensinou que parceria é pros bons e maus momentos.
Este é um momento muito ruim. Mas como um de seus parceiros, dos tantos que ele ajudou, não posso deixar de cumprir a minha parte que é lembrar aos amigos, aos meninos, que Adalto foi um cara generoso, íntegro, excelente profissional e amigo.
Até um dia amigo.
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Um comentário:
Mto obrigado por postar e contar historias relacionadas ao meu "2ndo pai". Eu tenho 28 anos de idade e conheci a familia "moro cästro"ha mais de 23 anos. Sou amiga da Ana Luiza desde pequena e aprendi a nadar na piscina da casa deles. Acompanhei a adocao do Marcelo,e o Adalto sempre foi meu "pai"adotivo. Parece que o vejo durante sua narracao dessas historias...Sempre receptivo foi ele
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