terça-feira, 4 de novembro de 2008

A Espada na Pedra I: somos todos Mato Grosso!

Prezados amigos, realmente me distanciei das postagens...Mas, como "animal político" não pude deixar de acompanhar e agora comentar algumas coisas que passaram pela minha cabeça nessas últimas eleições municipais de Cuiabá. De uma certa forma após essas eleições fiquei com a impressão que as próximas, de 2010, podem ser simbolizadas como a espada encravada na pedra, na lenda de Excalibur. Aquele que se encaixar no perfil correto irá retirá-la. Entretanto, antes de entrar nessa discussão algumas palavras sobre o pleito deste ano, no que toca a eleição dos vereadores.
Quanto à eleição proporcional não vou nem tecer muitos comentários. Apenas realçar alguns pontos que me impressionaram. O primeiro deles diz respeito à constatação de que esquemas familiares ainda são eficientes para a eleição de vereadores em Cuiabá. Temos alguns representantes eleitos que confirmam essa tese, o que demonstra que estamos ainda num estágio bem provinciano de se fazer política. Embora seja relevante também constatar que o eleitor também identifica, para não votar, os tais esquemas familiares. Dois jovens candidatos teoricamente "herdeiros" do legado político de seus "ancestrais", não foram eleitos, muito provavelmente por conta da assimilação negativa que tais "ancestrais" simbolizavam, um deles, inclusive na memória bem fresca da população.
Outro ponto das eleições proporcionais que sempre me intrigou é: como é que os candidatos que não são ligados a famílias influentes, ou que não sofrem super-exposição em meios de comunicação, conseguem se eleger e se reeleger com tanta facilidade? Como conseguem arregimentar aqueles quatro mil votos pra cima que garantem a eleição numa situação de pulverização extrema de candidaturas a vereador? Fazem, mesmo um bom trabalho? compram voto descaradamente? muitas respostas...
Acredito que os tradicionais esquemas políticos que garantem a sobrevivência da chamada "companheirada a soldo"(ou correligionários, no jargão político), ainda garantem uma minoria de votos. Esses votos se agregam a uns outros tantos de serviços prestados à comunidade(vamos também dar um pouco de crédito ao trabalho político da moçada)...uma grande parte deles se deve ao desequilíbrio por força da maior exposição (durante quatro anos) dos candidatos à reeleição perante a população, se comparada à mínima exposição dos novos candidatos. Convenhamos, uma parcela relevante de eleitores chega às urnas sem definir seu voto para verador e é muito raro que apanhe o santinho sujo jogado no chão para votar...Procura, dentre os candidatos aquele em quem já votou (e depois não acompanhou o trabalho parlamentar). Fala-se também(não sou eu quem está falando), em compra de votos a cinquenta reais...nesse preço, vejamos...dois mil votos custariam cem mil reais...e garantida estaria a eleição.
Fico imaginando como se daria essa compra de votos e o esquema esquizofrênico costurado em anos, cadastrando, cercando os eleitores(ou o "curral"). Fico imaginando o clima tenso na formação dessa lista já que uma simples denúncia, ou "trairagem" política pode levar à cassação do mandato e a processos eleitorais. Afinal, tem perdão (alguém há até mesmo de remunerar) o "ladrão que rouba o ladrão".
Mas retomando às eleições majoritárias e que inspiraram o tema deste post, conferi as inúmeras avaliações sobre o que representaram estas eleições para as vindouras, de Governador, em 2010.
Tenho observado algumas leituras e algumas colocações publicadas tem me chamado a atenção para um ponto: há uma disseminação na mídia "regionalizando" a discussão política.
Explico. Notei, durante a campanha, que o prefeito WIlson Santos de forma pontual e bem demarcada tentou vincular-se à imagem de Dante de Oliveira. Nada mais natural, uma vez que Wilson realmente "derivou" de Dante. Fiquei imaginando que tal vinculação seria uma espécie de reforço à questão de serem os dois candidatos do segundo turno, alienígenas(Wilson é paulista e Mauro Mendes é goiano). Depois, percebi, pelo discurso impresso(e perigoso) que não se tratava apenas de atrair para Wilson uma cuiabanidade emprestada de Dante, mas sim de contrapor(em um segundo plano), o verdadeiro alvo de fora(Maggi), com aquele que foi seu último concorrente de peso(Dante).
Para isso foi preciso toda a tucanada fazer ressoar o nome de Dante. Até mesmo na comemoração da vitória, coube ao deputado estadual Avalone bradar Dante. E depois, Wilson, lançar a "viúva"...de Dante.
Canonizar e fazer "baixar" Dante foi a tônica que chamou a atenção nesse período.
Mas o fecho veio depois das eleições, com alguns escritos que pontuaram na mídia. Feita a ligação, Dante/Wilson/Viúva versus Blairo/Mendes/botina, começaram a aparecer os discursos que eu temia. E teve gente que já escreveu sobre a arrogância da turma da botina - de fora - a humilhar nós cuiabanos...
Esse é o discurso perigoso pois é bairrista, limitado, preconceituoso...
Uma primeira questão seria esse "nós cuiabanos". Que "nós cuiabanos" é esse? Esse "nós cuiabanos" não me diz respeito, embora eu seja nascido aqui, família humilde, do Porto...
Talvez esse "nós cuiabanos" tenha mais a ver com a minoria de famílias que formavam a elite da terra num bem disfarçado e hipócrita esquema de curral eleitoral, forjado numa estrutura social estigmatizante, embora sutil, muito bem representado na famosa frase: "você é gente de quem?"
A estrutura provinciada demarcou por décadas os espaços sociais de nosso Estado embora essa não tenha sido uma característica apenas nossa. Não há nada de original nessa forma disfarçada de formação de castas políticas, apenas o "toque regional", muito bem disfarçado numa cordialidade e simplicidade que nos é típica. Mas que discriminava.
Eu atesto. Se não fossem os espaços públicos. Se não fosse a escola pública(minha querida UFMT e meu amado curso de Direito), estava eu fadado a cumprir o meu destino de "gente de ninguém", com meu sobrenome Silva.
O espaço público livre(o concurso público sério) e sem "esquemas familiares" é a redenção dos Silva. É a oportunidade democrática que estamos longe de ver concretizada, embora algumas instituições já dêem mostras de que esse caminho acabará sendo alcançado. Quem esperava a súmula do nepotismo do STF?
Então posso falar de cátedra: esse "nós cuiabanos" na verdade me diz muito pouco...E sei que diz também muito pouco a outros Silvas, como ao amigo Julier Sebastião da Silva, ao amigo João Bosco Soares da Silva e a tantos outros que estudaram e muito e disputaram pela competência o espaço público disponível para chegar onde chegaram.
Além do mais, graças ao bom Deus e quiça ao Senhor Bom Jesus de Cuiabá, nossa terra é representativa de miscigenação. Casei-me com uma paulista, descendente de italianos. Meu cunhado é goiano. Meus colegas de serviço público, a maioria de outros Estados. Todos contribuindo para nossa terra.
Esse discurso definitivamente não me atrai.
Seria aderir a um preconceito e à uma discriminação política à minha própria família, toda ela miscigenada. Embora alguns mais "tradicionalistas"(que fiquem em seus recantos), nos considerem "impuros".
Não se trata de defender Blairo Maggi. Trata-se de não aceitar a colocação de um discurso que não atende mais à realidade sociológica de nosso povo.
E termino com a pergunta: o Governador do Estado que queremos, aquele que retirará a espada da pedra, se for cuiabano discriminará a região oeste do Estado onde predominam paulistas e mineiros? discriminará a região norte onde os sulistas são maioria? Discriminará a região sul onde uma intensa mistura de sulistas e paulistas é dominante? discriminará a região leste marcadamente sobre a influência goiana?
Depois eu posto mais algumas considerações: aguarde - A espada na Pedra II...

Um comentário:

o direito criminal disse...

ZÉ VC PAROU DE ESCREVER PQ CARA?